As médias usadas em análises sobre a educação escondem a persistência de profundas desigualdades no interior de um mesmo município – sobretudo em uma metrópole complexa como São Paulo.
Dados desagregados por cor, raça, renda, gênero, idade e distribuição geográfica são necessários para revelar os desafios das políticas educacionais para a superação das desigualdades, mas ainda há enorme dificuldade em obtê-los (seja porque estão dispersos ou desorganizados, seja porque sequer existem).
Com dados levantados junto aos governos federal, estadual e municipal sobre o atendimento e a demanda educacional no território, a ONG Ação Educativa analisou a situação da cidade e sua evolução na última década (2001-2011).
Na publicação “Educação e desigualdades na cidade de São Paulo” (2013), há dados inéditos, solicitados via Lei de Acesso à Informação (LAI), ou análises de dados já existentes, mas que ainda não haviam recebido tratamento sob a ótica das desigualdades.
Os pesquisadores vinham tentando obter esses dados desde 2008, mas foi somente a partir da vigência da LAI, em 2012, que muitos deles foram divulgados. Há ainda muitos dados que não são coletados atualmente (sobre a renda dos estudantes e familiares, por exemplo).
Chama atenção também a alta taxa de não declaração no quesito cor ou raça no Censo Escolar, o que prejudica a utilização dessa variável na análise. Seriam necessárias campanhas de orientação das secretarias escolares para melhorar o preenchimento dos questionários.
No vídeo abaixo, participo de entrevista sobre o tema na UnivespTV com Ananda Grinkraut, pesquisadora da Ação Educativa e uma das autoras da publicação:
Dois exemplos do que não seria possível saber olhando para a educação em São Paulo somente por meio das médias municipais:
- O analfabetismo chega a 8,8% no distrito de Marsilac, embora a média da cidade seja de 3,1% (na Consolação, a taxa é de 0,5%); se considerarmos a taxa desagregada por cor, o total de negros analfabetos acima de 15 anos é significativamente superior ao da população branca (a diferença se reduz nas novas gerações, mas na faixa de 20 a 29 anos ainda é o dobro).
- A maior parte do cadastro municipal de demanda por vaga na educação infantil é composto por crianças pequenas, entre um e dois anos de idade. Em junho de 2012, das 154 mil crianças cadastradas (de zero a seis anos), 30% tinham apenas um ano; 28%, dois anos e 18%, três anos de idade. No entanto, hoje a maior parte do atendimento em creche está voltado às crianças de dois e três anos de idade.
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